domingo, 29 de março de 2015

Brincar, conhecer, ensinar. Sanny S. da Rosa



As questões abaixo trazem uma síntese do livro que é de suma importância para pais e professores na compreensão do desenvolvimento cognitivo da criança 





1.    Qual é a relação estabelecida por Rosa, entre brinquedo e brincadeira?


A linha de pensamento de Rosa para a relação brinquedo e brincadeira tem como base o exemplo de Furth, quando este exemplifica uma criança  que  se utilizando de um pedaço de madeira “brinca”  fazendo de conta que este é um automóvel, para a criança naquele momento o pedaço de madeira é realmente um automóvel pelo fato de que ela atribuí a ele essa função fazendo uso de sua subjetividade. Neste exemplo se pode perceber que a criança entende o brinquedo e o objeto que ele representa naquele momento como algo que existe independente dela, e tem a possibilidade de atribuir-lhe significado, fazendo “uso” deste ao mesmo tempo que expande seu conhecimento sobre o objeto real ao qual está representando.
Portanto a criança conhece e sabe para que serve o real, simboliza o seu uso no imaginário tornando-o  cada vez mais significativo, através da internalização dos símbolos.

2.    Como a autora discute os temas, brincar, brinquedo e brincadeira?


A autora analisa esse tema não como processo pedagógico, como atividade determinada a resultados na questão do desenvolvimento intelectual pontuado na infância o que é uma perspectiva educacional.
Sua análise parte do princípio de que, brincar é uma atividade que se inicia na infância, norteada pelo uso do brinquedo como meio para criatividade em seu uso simbólico durante a brincadeira, isso permitirá a qualidade na relação indivíduo/objeto durante toda a vida, portanto é aí que se estabelece o fundamento e importância do tema, pois toda relação estabelecida pelo indivíduo com seu mundo exterior ao longo da vida terá como suporte a qualidade do desenvolvimento adquirido nesta fase.

3.    Explique a expressão: “... à conquista da consciência do objeto corresponde a conquista da consciência do “eu” como sujeito, e que os elementos necessários à experiência do conhecimento já estão constituídos”.

Ao entender que o objeto é algo exterior a ela, a criança percebe-se como indivíduo capaz de influenciar o meio ao qual está inserida. A exploração deste meio se dará através das experiências advindas desta consciência, onde o “eu” terá que submeter-se às características do “objeto”, porém essa submissão proporcionara as possibilidades para que criativamente a criança busque através do movimento pendular entre objetividade e subjetividade a adequação necessária do “objeto” ao “eu”, trabalhando as frustrações que as tentativas e erros ocasionarão, essa busca de equilíbrio é o que promoverá as estruturas necessárias e conhecimento para lidar com o mundo exterior social e culturalmente ao longo da vida.

4.    Por que brincar é tão importante no processo de aprendizagem?

            No momento em que brinca a criança toma decisões, atua sobre o objeto ou significado da brincadeira e faz ressignificações sobre sua atuação, essas experiências acabam por equilibrar as estruturas cerebrais provenientes de conhecimentos anteriores aos novos conhecimentos e assim se dá a aprendizagem.
            Portanto quanto mais a criança brinca mais desenvolve competências e habilidades para novas descobertas e construções dentro potencializando sua capacidade de aprendizagem.


5.    No texto a autora fala sobre a mãe humana e o professor humano, e qualquer ser humano é um ser que falha. E precisa falhar. Porque no processo de desenvolvimento do ser humano desde o nascimento, o adulto que educa precisa falhar?

            A falha neste sentido permitirá ao bebê ou educando entender que ele não é único, que existe uma realidade paralela a sua existência, e que ele precisa atuar sobre essa realidade por meio de outras possibilidades. No caso do bebê os objetos transicionais o conduzirão nesta adaptação, já no caso do educando será a maneira como o professor lhe induzirá a busca por meios alternativos, não lhe oferecendo respostas prontas, fazendo com que este experimente a sensação do erro e entenda que está ao seu alcance acertar, pois a frustração aqui funcionará como meio para o crescimento e desenvolvimento de novas habilidades.

6.    Explique, de acordo com a teoria de Winnicott, citado por Rosa, o que são objetos transicionais e fenômenos transicionais.

                       
            Entende-se por transicional, algo que se faz necessário em um momento de avanço de um estado a outro. Ao falhar  a mãe abre espaço para que o bebê sinta a necessidade de algo, nesse momento ele iniciará sua busca em suprir tal necessidade, buscará em seu interior, os  definidos por Winnicott  de “fenômenos transicionais” que são seu próprio balbuciar, cantigas de ninar etc. Que são fatos que ocorrem em sua subjetividade.
            Ao perceber que  essa possibilidade não é suficiente à sua nova realidade o bebê partirá então para uma nova busca, e desta vez algo concreto, pois, desiludido pela falha da mãe precisa de conforto, e por algum tempo terá sua necessidade saciada pelos “objetos transicionais”, perceberá então nessa busca que não é suficiente a si próprio, pois, verá agora que  a mãe é algo fora de si, bem como os objetos aos quais se apegou, o interessante para o bebê nesse estágio é que esse objeto é real, concreto e que supre -  ainda que em parte - a falha da mãe.
            Nesse processo o bebê passará como já citado de um nível a outro, portanto os “fenômenos transicionais” pertencem a fase da transição onde prevalece a subjetividade, para ele é indiferente o que é interno e externo. Quando passa para os “objetos transicionais” passa a ter a percepção de que existe um mundo “exterior” a si, o fato de compreender isso o leva a ter “ação” sobre esse novo mundo o que persistirá como construção para a vida toda. 


7.    O que significa movimento pendular e qual é a sua função?

            A questão anterior que nos remete a passagem de um estágio de compreensão a outro, faz com que a ideia fique mais clara quando abordado o significado de “movimento pendular” para Winnicott essa transição não acontece em saltos, o bebê não abandonará definitivamente a subjetividade do estágio anterior - por mais que a medida em que cresce e compreende as leis da física através do raciocínio lógico, o que o leva, quando adulto a perda da capacidade de brincar como afirma o texto – esse movimento pendular é a capacidade que o bebê tem de alternar-se entre os dois estágios, o subjetivo e o objetivo. Embora esteja em processo progressivo, esse movimento é de suma importância para o desenvolvimento.
            Por conseguinte “movimento pendular” nada mais é que a alternância entre a objetividade e subjetividade no processo de desenvolvimento e percepção do interior e exterior.

8.    Segundo Winnicott todo indivíduo tem um espaço potencial, onde o mesmo  terá a oportunidade de viver criativamente ao longo de sua existência. De acordo com sua teoria descreva o significado de espaço potencial.

            O espaço potencial a qual Winnicott se refere é uma terceira área onde o indivíduo tem armazenadas as experiências dos estágios anteriores como um patrimônio que dará suporte aos novos avanços e  conhecimentos, podendo através deste interagir com a cultura de maneira construtiva e criativa.

9.    Defina segundo a teoria de Winnicott: uma mãe suficientemente boa.

            A  “mãe suficientemente boa” é definida como aquela que supre  as necessidades do filho quase que por completo, o que dará suporte emocional ao indivíduo em todas as etapas da vida, e para isso, falhar também faz parte dessa “bondade”, pois se esta mãe não falha o bebê não terá necessidades, e o fato de não as ter acabará por não gerar motivação, que é impulso necessário para seu crescimento físico, mental e intelectual.

10. Segundo Rosa, o processo de desenvolvimento saudável da capacidade de conhecer o mundo e também de aprender depende de uma série de condições. Descreva quais são essas condições.


            Rosa aponta as seguintes observações para que o desenvolvimento saudável ocorra sem restrições:  as condições oferecidas pelo ambiente no processo de desenvolvimento emocional primitivo da criança; a possibilidade que esta tem de experimentar um estado de “não-saber” sem sentir-se ameaçada por isso; e finalmente, que o brincar criativo  e o pensar depende da possibilidade que o indivíduo teve de experimentar e viver o seu próprio “ser” numa relação com o outro, pautada pelo respeito e confiabilidade.
            Portanto, o desenvolvimento saudável da criança depende diretamente da qualidade da relação mãe-bebê, se essa mãe segue, mesmo que sem conhecimento científico, mas pura e intuitivamente os cuidados necessários para manter o bem estar de seu filho desde o primeiro dia de vida – o que é praticamente comum às mães -  a criança com certeza não terá problemas na capacidade de aprender e de conhecer o mundo.


11.  Qual é o pressuposto básico da teoria de Winnicott sobre o brincar?

            Para Winnicott o pressuposto básico sobre o brincar é de que este se localiza na terceira área da experiência, no espaço de trânsito entre interior e exterior, ou seja, no espaço potencial da criatividade. Portanto o brincar não pertence ao interior onde os objetos estão sob controle mágico, nem ao exterior fora de qualquer controle.  Afinal para controlar o que está fora é preciso fazer coisas, não basta simplesmente pensar, portanto é ai que se localiza o brincar na ação exercida sobre o objeto, o que a criança faz e o que  imagina enquanto está fazendo.

12.  Estabeleça de acordo com o texto uma relação entre o brincar e o conhecer.


            O brincar proposto no texto pela autora e também para Winnicott, não é aquele no qual se deve  seguir as regras de um jogo de forma submissa para agradar a mãe o pai ou o professor. Esse tipo de brincar pode até ensinar alguma coisa para a criança, mas não a leva a criar. O brincar propriamente dito e proposto pelo texto é aquele em que a criança tem a possibilidade de transitar entre sua  subjetividade e objetividade das coisas concretas, criando e recriando, fazendo literalmente experiências guiadas por uma lógica construtiva de sua própria autoria, onde as regras são criadas por ela, essa é a relação entre brincar e conhecer, viver explorando as possibilidades, e a consequência é sem dúvida novos conhecimentos.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Resenha do filme "Nós que aqui estamos por vós esperamos"





       Lançado no Brasil em 1999, com duração de 73 minutos, o filme “Nós Que Aqui Estamos por Vós Esperamos,” tem um título expressivo para reflexão sobre a vida e a morte. É nessa perspectiva que o filme com direção, roteiro e produção de Marcelo Masagão, aborda brilhantemente em forma de documentário, fatos históricos do século XX.
         Em função de enriquecer a interpretação feita por seu público, Masagão valoriza as imagens utilizando-se de sobreposições, que aos poucos, e sem uma ordem cronológica vão revelando uma retrospectiva daquele século.
         As guerras têm grande ênfase neste contexto, pois com certeza foram causadoras de muitas mortes, mudando assim o destino de pessoas, algumas conhecidas na história mundial, e outras apenas personagens fictícios, os quais o autor nomeou para dar um sentido mais humanista aos fatos. Um destes momentos chama a atenção de forma mais específica, a imagem do monge budista, que ateia fogo ao próprio corpo em protesto a guerra do Vietnã.
          O filme reafirma que o homem contemporâneo é outro, porém a essência é a mesma, a busca insana pelo poder e pela felicidade a qualquer custo, mesmo que o preço seja dispor da vida dos outros, já que o ser humano é incapaz de pensar a própria morte, isso fica bem claro tanto nos campos de batalha, onde se planeja apenas matar o inimigo, ou nas cúpulas dos governos onde o importante é tomar o poder.
         As imagens acompanhadas pela música de Wim Mertens, hora melancólica, nos remetem a pensar o passado com repulsa pelas mazelas das guerras, e hora entusiástica, com nostalgia, como se sentisse a necessidade de ter vivido a breve boa parte desse intrigante século, imaginar-se em meio ao Maracanã, vendo Garrincha cheio de propriedade com a bola nos pés, ou participar da dança frenética de Fred Astaire.
         O século XX foi mesmo eletrizante, invenções maravilhosas como o  rádio, televisão, telefone, luz elétrica, o homem chegando a lua, a revolução industrial, e vejam só;   graças a ela  nossas  cidades   não   cheiram  mais a  cavalo, com  isso o que dizer de  Alex Anderson, que  produziu  tantos  carros,  no  entanto  nunca possuiu um, trabalhava apenas para sobreviver, e através do trabalho de Alex, será que o dono da Ford foi feliz? A única certeza que temos é que ambos tiveram o mesmo fim, pois frente à morte não existe diferença.
         E “elas” as incríveis mulheres, queimando seus sutiãs, brigaram e conquistaram seus direitos, porém infelizmente, muitas ainda hoje, não usufruem desses, talvez apenas por ainda estarem submetidas a tabus que desde o século XX   foram quebrados.
         O homem em busca de ser e fazer feliz lança mão de uma busca aviltante pelo ouro na serra pelada, quem se tornou rico realmente? Algum Antonio? E a construção do muro de Berlim na divisão de conceitos, e depois a derrubada deste em nome da paz,  da unificação e da democracia.
         Ao fim de toda esta loucura na busca pela tão desejada felicidade, sem mais perspectivas, o homem então, busca consolo nas diversas  religiões, crendo que encontrará  soluções, acredita em coisas esdrúxulas ditas por demagogos, e finalmente acaba morrendo sentindo-se injustiçado, como se Deus  fosse responsável  por sua insensatez.



                                              




                                                                                  

                                            

EDUCAÇÃO NATURAL, INDIRETA OU NEGATIVA

Segundo Rousseau, o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe, e sendo a educação um hábito que se adquire, esta, sendo imposta pela sociedade pode mudar o comportamento e imputar vícios corrompendo a natureza boa que o homem teria em sua essência.
            Quando Rousseau propõe a educação natural ou negativa, não significa devolver a criança à selva, e sim privá-la de um convívio direto com a sociedade, confiando à educação desta, a um mestre que estaria preparado para conduzi-la de maneira a prover seu desenvolvimento natural, até que atingisse a maturidade moral necessária para racionalmente fazer as escolhas certas, e desviar-se do que não convém.
            O educador deve atentar para estar sempre à frente, prevendo cada passo a ser dado, preparando o ambiente e o material necessário para que a criança  aprenda por  si, e que esta aprendizagem aconteça  naturalmente do interior para o exterior, sem intervenção, nunca dizer o que ela deve fazer, e sim levá-la a raciocinar, e isto com certeza, segundo Rousseau, a natureza poderá proporcionar  pois em contato com as forças da natureza  a criança aprende a julgar, a prever e a raciocinar sobre tudo que se relaciona a vida.
Deverá também, respeitar cada fase da criança, sabendo sempre e quando será a hora propícia para expor determinados assuntos, pois antes deste momento apenas poderiam confundir sua mente ainda não capaz de compreendê-los, portanto para ele a religião não deve ser apresentada na infância o que segundo suas palavras enlouqueceria a criança por não saber explicar o que lhe seria imposto.
            Rousseau foi o precursor da ideia de que a criança não é um adulto em miniatura, e que a educação só atingiria seus objetivos se o aluno passasse a ser o centro desta, e não mais o professor, ora se a educação desde os primórdios visa formar cidadãos, deve ser pensada e estruturada com base nas necessidades do aluno e não de quem já está formado.
A educação natural de Rousseau pretende:       
·         Formar o homem para si mesmo, e não para a sociedade;
·         conduzi-lo sempre na busca da verdade;
·         propiciar o desenvolvimento para manter a bondade natural do homem;
·         não proporcionar virtudes, mas prevenir vícios;
·      não inculcar a verdade, mas proteger  do erro.





Lendo os textos propostos professora pela professora Rúbia, e também pelo professor Paulo Cezar, chego a conclusão de que hoje seria inviável colocar em prática a educação proposta por Rousseau, porém ao analisar e buscar compreender seus propósitos para educação da época,          pude aprender muito sobre o ser humano, e de como é importante o preparo do educador em sua tarefa na busca à formar cidadãos críticos e criativos, sendo esse desejo quase uma utopia, o mínimo a se fazer será não medir esforços para chegar o mais próximo possível deste ideal, como afirma Rousseau formar primeiro o homem, para depois formar o cidadão, através da sequência  natural.
O trecho abaixo me chamou atenção para o fato da confiança que Rousseau tinha em seu método, e a certeza de que chegaria ao seu objetivo:
3. Quanto ao meu aluno, ou antes, ao aluno da natureza, desde cedo treinado a bastar-se a si mesmo tanto quanto possível, ele não se habitua a recorrer continuamente aos outros, e muito menos a lhe exibir seu grande saber. Em compensação, julga, prevê, raciocina sobre tudo o que se relaciona imediatamente com ele mesmo. Não fala muito, mas age; não sabe uma palavra do que se faz na sociedade, mas sabe muito bem o que lhe convém. Como está continuamente em movimento, é forçado a observar muitas coisas, conhecer muitos efeitos; cedo adquire uma grande experiência, toma aulas de natureza e não dos homens; por não ver em nenhuma parte a intenção de instruí-lo, instrui-se melhor. Agindo sempre de acordo com seu pensamento, e não com o de outra pessoa, une continuamente as duas operações; quanto mais forte e robusto se torna, mais sensato e judicioso fica. Esse é o meio de um dia obter o que acreditamos ser incompatível e o que quase todos os grandes homens reuniram a força do corpo e a força da alma, a razão de um sábio e o vigor de um atleta (p. 138 e 139).
Este é o exemplo que levarei dele, confiança de que posso e certeza de que consigo.