Lançado no Brasil
em 1999, com duração de 73 minutos, o filme “Nós Que Aqui Estamos por Vós Esperamos,”
tem um título expressivo para reflexão sobre a vida e a morte. É nessa perspectiva
que o filme com direção, roteiro e produção de Marcelo Masagão, aborda
brilhantemente em forma de documentário, fatos históricos do século XX.
Em função de enriquecer a interpretação
feita por seu público, Masagão valoriza as imagens utilizando-se de
sobreposições, que aos poucos, e sem uma ordem cronológica vão revelando uma
retrospectiva daquele século.
As guerras têm grande ênfase neste
contexto, pois com certeza foram causadoras de muitas mortes, mudando assim o
destino de pessoas, algumas conhecidas na história mundial, e outras apenas
personagens fictícios, os quais o autor nomeou para dar um sentido mais
humanista aos fatos. Um destes momentos chama a atenção de forma mais
específica, a imagem do monge budista, que ateia fogo ao próprio corpo em
protesto a guerra do Vietnã.
O
filme reafirma que o homem contemporâneo é outro, porém a essência é a mesma, a
busca insana pelo poder e pela felicidade a qualquer custo, mesmo que o preço
seja dispor da vida dos outros, já que o ser humano é incapaz de pensar a
própria morte, isso fica bem claro tanto nos campos de batalha, onde se planeja
apenas matar o inimigo, ou nas cúpulas dos governos onde o importante é tomar o
poder.
As imagens acompanhadas pela música de
Wim Mertens, hora melancólica, nos remetem a pensar o passado com repulsa pelas
mazelas das guerras, e hora entusiástica, com nostalgia, como se sentisse a
necessidade de ter vivido a breve boa parte desse intrigante século,
imaginar-se em meio ao Maracanã, vendo Garrincha cheio de propriedade com a
bola nos pés, ou participar da dança frenética de Fred Astaire.
O século XX foi mesmo eletrizante,
invenções maravilhosas como o rádio,
televisão, telefone, luz elétrica, o homem chegando a lua, a revolução
industrial, e vejam só; graças a ela nossas cidades
não
cheiram mais a cavalo, com isso o que dizer de Alex Anderson, que produziu tantos carros, no entanto nunca possuiu um, trabalhava apenas para sobreviver,
e através do trabalho de Alex, será que o dono da Ford foi feliz? A única
certeza que temos é que ambos tiveram o mesmo fim, pois frente à morte não existe diferença.
E “elas” as incríveis mulheres,
queimando seus sutiãs, brigaram e conquistaram seus direitos, porém
infelizmente, muitas ainda hoje, não usufruem desses, talvez apenas por ainda
estarem submetidas a tabus que desde o século XX foram
quebrados.
O homem em busca de ser e fazer feliz
lança mão de uma busca aviltante pelo ouro na serra pelada, quem se tornou rico
realmente? Algum Antonio? E a construção do muro de Berlim na divisão de
conceitos, e depois a derrubada deste em nome da paz, da unificação e da democracia.
Ao fim de toda esta loucura na busca
pela tão desejada felicidade, sem mais perspectivas, o homem então, busca
consolo nas diversas religiões, crendo
que encontrará soluções, acredita em
coisas esdrúxulas ditas por demagogos, e finalmente acaba morrendo sentindo-se
injustiçado, como se Deus fosse
responsável por sua insensatez.